Os debates televisivos entre os líderes de cada um dos partidos políticos concorrentes às próximas eleições legislativas de 10 de Março — que começaram no passado dia 5 de Fevereiro e ainda estão a decorrer — pese embora, do meu ponto de vista, não tenham o melhor formato e nem tampouco o tempo minimamente aceitável para se discutir com profundidade os problemas que o país enfrenta e que políticas e medidas concretas defendem para os resolver, têm, ainda assim, contribuído para conhecermos melhor cada um dos respectivos protagonistas políticos e as ideias chave que cada um preconiza.

Nesse sentido, manda dizer a verdade que, não sendo este o melhor formato para se discutir e debater o país, é contudo possível fazer passar algumas mensagens importantes que facilitam os eleitores a identificar os diferentes modelos político, económico e social de cada partido, bem como — não menos importante — os diversos perfis de personalidade dos respectivos candidatos.

Ora, começando pelos diferentes modelos políticos, fácil será concluir que, digam o que disserem os partidos, a divisão clássica entre esquerda e direita mantém-se repleta de actualidade. Situando-se claramente à esquerda os partidos PAN, PS, Livre, PCP e BE, por oposição à direita onde se inserem os partidos Iniciativa Liberal, PSD, CDS (que em virtude da coligação AD voltará a estar representado no Parlamento na próxima legislatura) e o Chega.

Porém, esta divisão clássica há muito tempo que deixou, por si só, de ser suficiente para determinar, com rigor, a forma de agrupamento dos partidos, principalmente, no suporte a dar a um hipotético Governo, sendo absolutamente determinante o que defendem quanto ao modelo económico para o país. Por exemplo, aos partidos da esquerda que subscrevem, sem reservas, o intervencionismo do Estado na economia — diferenciando-se uns dos outros apenas pelo grau ou medida dessa intervenção estatal —, soma-se o Chega, na medida em que é manifesto o seu apoio à intervenção do Estado na gestão de empresas que considera “estratégicas” para Portugal, aliás, como ficou bem explícito no debate entre André Ventura e Rui Rocha que muito bem recordou o caso da TAP e dos inesquecíveis 3.2 mil milhões de euros, provenientes dos impostos pagos pelos contribuintes, que o Governo lá enterrou com o apoio do Chega e que já todos percebemos não serão, nunca, recuperados pelo Estado nem devolvidos à proveniência, i.e., aos respectivos contribuintes portugueses.

Já quanto às questões sociais, nomeadamente aquelas tidas como mais fracturantes, a IL defende, sem reservas, tudo o que seja relativo à liberdade individual e ao exercício dessa liberdade de escolha que a todos e a cada um assiste numa democracia liberal plena. E aí, lamento muito, mas a verdade dos factos é que, na defesa dessas matérias — que são e sempre foram causas liberais e não de esquerda, muito menos trotskista —, à direita, os liberais quase sempre ficam sozinhos, apenas acompanhados por uma pequena parte de social-democratas.

Sobre este assunto, sempre muito usado no combate ideológico dentro da direita, designadamente por algumas franjas de conservadores ortodoxos e, especialmente, por populistas demagogos e hipócritas, considero a tentativa de colagem dos liberais à esquerda bloquista uma exasperante demonstração de ignorância. Pois se Portugal fosse há mais tempo um país mais liberal não teria esperado mais de 40 anos, após o 25 de Abril de 1974, para ter um partido político assumidamente liberal, em que tais causas ou, pelo menos, muitas delas, caberiam e seriam suas. Se assim fosse, como nos países de enorme tradição liberal, essas causas nunca teriam sido usurpadas, sem nenhum contraditório, pela esquerda radical que as tomou como suas.

De certa forma, os debates entre os candidatos têm mostrado estas diferenças nos argumentos usados em defesa das suas ideias programáticas.

A esse respeito, dúvidas não poderão mais persistir de que o actual PS de Pedro Nuno Santos — mais do que alguma vez em toda a sua história de 50 anos de existência — é um partido marcadamente de esquerda, socialista e trabalhista, e, já não tanto, um partido de centro-esquerda, social-democrata e social liberal. Esta é uma versão bem mais “gauche” do que aquela que vigorou durante o consulado de António Costa, cuja liderança teve o condão de normalizar alianças políticas do PS com a esquerda marxista e radical do PCP e do BE. Por conseguinte, um PS muito afastado do antigo partido fundado e liderado por Mário Soares que, de resto, condenou os comunistas e seus satélites e derivados à quase irrelevância política nacional, transformados em partidos de mero protesto, numa oposição perpétua. Bem como, por maioria de razão, um partido ideologicamente longínquo daquele que foi o “novo” PS de António Guterres, que introduziu a “rosa” como cor e como símbolo da moderação centrista e social-democrata, conseguindo absorver uma parte substancial do eleitorado que antes tinha estado com o PSD de Cavaco Silva nas suas irrepetíveis maiorias absolutas.

Dito isto, o grande centro político do eleitorado português é onde se situam de forma particularmente expressiva os cidadãos eleitores das classes médias, que, por serem pessoas menos fidelizadas aos partidos políticos, como sabemos, são mais flexíveis e permeáveis à mudança do seu sentido de voto em função de cada momento e de cada acto eleitoral. Pelo que, com este acantonamento ideológico do PS à esquerda, estes votos tenderão a concentrar-se mais no centro-direita, i.e., na AD, mas também na Iniciativa Liberal, partido ainda muito jovem e recente no espectro político nacional, que tem vindo a crescer e a se consolidar como partido político inequivocamente moderado, mas com uma mensagem clara, directa e ideologicamente muito vincada que atrai pela força das ideias.

Assente no liberalismo político, económico e social, a IL dirige-se a um “target” concreto mas suficientemente largo e abrangente que é a classe média. Assim se diferenciando dos conservadorismos social-democrata do PSD e democrata-cristão do CDS e se demarcando totalmente do protesto inconsequente, abruptamente ziguezagueante, sem credibilidade nem soluções exequíveis, por, contrariamente a estes, não ser um “catch-all party”.

Com efeito, profissionais liberais, trabalhadores por conta de outrem, no sector público e no sector privado — que dão o máximo de si e querem ver esse reconhecimento espelhado por uma avaliação séria e justa que premeia o mérito e se reflita no seu salário —, micro, pequenos e médios empresários que apesar das dificuldades arriscam, que embora com sacrifícios investem, estudantes que se esforçam, que trabalham para poder estudar, que embora trabalhem de dia estudam à noite para poder aceder a outras funções ou exercer outras profissões, trabalhadores e estudantes que se vêem obrigados a emigrar para países onde mais facilmente conseguem viver e subir vida através dos rendimentos do seu trabalho.

Enfim, portugueses com ambição, que querem mudar o país porque sabem que é possível fazer em Portugal o mesmo que outros fizeram e estão a fazer. Mudanças que verdadeiramente tragam a prosperidade e a felicidade há muito prometida mas até hoje nunca cumprida não se iludam: o único voto que muda Portugal é o voto na Iniciativa Liberal.


Publicado no Jornal O DIABO.