No passado fim-de-semana foi o conclave socialista da partida de António Costa e da chegada efectiva de Pedro Nuno Santos à liderança.

Sobre o ainda Primeiro-Ministro nada tenho já a comentar a não ser a minha confessa impaciência para o aturar, em resultado da inexplicável espera que temos de aguardar até ao próximo dia 10 de Março, data das eleições legislativas antecipadas, decidida — sabe-se lá por que razão — pelo Presidente de poucos e cada vez menos portugueses que nos obriga a ter de levar com este Governo totalmente morto a resolver o que quer que seja com interesse para as tristes vidas, difíceis e muito maltratadas, da maioria dos cidadãos, mas, diga-se, em respeito pela verdade, paradoxalmente vivo e cheio de saúde e energia para fazer propaganda e campanha eleitoral permanente, com os recursos do Estado e o dinheiro dos contribuintes colocados integralmente ao serviço do “superior” interesse do Partido Socialista, na luta que trava pela manutenção do poder e consequente sobrevivência política.

Já sobre Pedro Nuno Santos e o seu recém-eleito secretariado nacional socialista neo-marxista, muito há a dizer. Desde logo pela extraordinária guinada radical até à berma da extrema-esquerda a que alguma vez pudemos assistir no seio do PS. Aliás, este Partido Socialista Radical (PS-R) é o mais esquerdista e dirigista de toda a sua história. Sendo necessário recuar aos tempos que se seguiram ao 25 de Abril de 1974 para encontrarmos a génese ideológica que triunfou no dia 7 de Janeiro de 2024.

Refiro-me a Manuel Serra que, no Partido Socialista, foi o precursor de Pedro Nuno Santos, liderando uma ala marxista anti Mário Soares que defendia a aproximação ao PCP. Tendo acabado por abandonar o PS em resultado da derrota (44%) obtida pela sua lista para a Comissão Nacional do partido, no I Congresso, em Dezembro de 1974.

Pedro Nuno Santos conseguiu, assim, quase 50 anos depois da primeira tentativa, então falhada, de tornar o Partido Socialista num partido marxista, realizar o sonho de Manuel Serra e dos seus “compagnons de route” militantes revolucionários da classe trabalhadora do movimento socialista português.
Sem qualquer tipo de ironia, tenho mesmo imensa pena que Mário Soares, fundador do PS, que liderou o país contra a tentativa de sovietização do país pelo PCP durante o gonçalvismo do PREC, que esteve na monumental Fonte Luminosa — com todos os democratas de todos os partidos verdadeiramente democráticos e pluralistas ao seu lado — contra os paranóicos comunistas totalitários derrotados no 25 de Novembro de 1975, tenha falecido sem ver com os seus próprios olhos isto acontecer no seu partido.

Pedro Nuno afirma querer mais Estado e mais socialismo para Portugal inteiro.

Não causa espanto. Pois, de facto, é isso mesmo aquilo que já acontece e cada vez com melhores resultados no nosso país, fruto, de resto, do trabalho incrível que o próprio desenvolveu enquanto governante nos últimos 8 anos nestes três Governos do PS. Sim, porque Pedro Nuno não chegou agora. Pedro Nuno veio com António Costa. Foi quem, aliás, abriu todas as portas: primeiro a do Largo do Rato, praticamente arrombada pela força da traição republicana, laica e socialista, conhecida também por “conspiração”, que apunhalou nas costas António José Seguro e, hilariantemente, muitos dos agora seus queridos apoiantes. Depois as portas de São Bento, também praticamente abalroadas com a preciosa ajuda do BE e do PCP — quais mártires da pátria também entalados às portas do castelo com Martim Moniz à cabeça — que agora, de novo, se babam por uma Secretaria de Estado qualquer ou, quiçá, um Ministério por mais irrelevante e inútil, a ser criado à sua imagem e medida.

Bem sei que a acefalia-geral da República — patologia em franca expansão e altamente contagiosa sobretudo entre quem não estudou convenientemente, presente em grande escala nos órgãos de comunicação social, nomeadamente televisões, rádios e jornais — tenderá a branquear toda a actividade do líder do novo PS-R enquanto responsável por uma série de decisões políticas, em pastas extremamente desagradáveis, como a TAP, a CP ou a Habitação, levando muitos outros desprevenidos de juízo, ingénuos ou simplesmente básicos a achar que realmente tenha acabado de chegar.

Só que não. Ele sempre cá esteve ao longo destes malditos 8 anos de atraso e empobrecimento. Falhando apenas uma dúzia de meses, tão somente, porque rebentou uma bomba de 500 mil euros (Indemnização de Alexandra Reis), por si detonada através do WhatsApp, no seu próprio telemóvel.

Tudo em Pedro Nuno é francamente mau. A sua lata é universal, i.e., infinita e inesgotável. Típica de um inimputável que tudo diz sem ponderar e tudo faz sem pensar e com uma apetência para o populismo que não perde em quantidade, qualidade e oportunidade face a outros políticos, reconhecidamente brilhantes, nessa especialidade.

O fascínio que tem por soluções de Governo do tipo albanez e sul americano é bem revelador do projecto político-ideológico que tem em mente aplicar, lá está, a Portugal Inteiro.

A falta de crédito da sua literacia económica, financeira e de gestão de empresas, o estatismo alucinante que subjaz a todas as suas propostas e decisões políticas, designadamente dossiers como o da famigerada TAP, nacionalizada e intervencionada com 3.2 mil milhões de euros do dinheiro dos contribuintes extorquidos em impostos, gerida por uma turma de qualificação técnica duvidosa que colocou a empresa totalmente à mercê da interferência directa dos mais qualificados idiotas, in casu, seus Secretários de Estado, como ficou claro naquela situação caricata que pretendia antecipar um voo marcado, com mais de 200 passageiros confirmados, para, de acordo com as suas cabeças dementes, agradar ao Presidente da República, em visita oficial a Moçambique, que assim regressaria a Portugal pela caríssima Transportadora Aérea Portuguesa. Isto sem esquecer a forma como se contrataram amigos e familiares para a companhia e, novamente, sublinhando o já mencionado despedimento milionário de uma administradora que, por mero acaso ou talvez magia, viria a ser Secretária de Estado no mesmo Governo.

E a absurda crise de habitação que o país hoje atravessa é também responsabilidade política de Pedro Nuno Santos e do PS, por mais que pragueje e estrebuche, como deselegantemente se comportou perante a jovem jornalista da SIC Nelma Serpa Pinto — que fez o que se esperaria de qualquer jornalista digno da respectiva carteira profissional — que o encostou às cordas do seu próprio ringue ao confrontá-lo com a sua completa incompetência e inabilidade total para ter resolvido, em tempo útil, o problema durante os longos 7 anos em que esteve no Governo, depositando a sua credibilidade para abordar o assunto em questão numa sarjeta de esgoto.

Em suma, se este “novo” Partido Socialista Radical, liderado por Pedro Nuno Santos, for escolhido pelos portugueses, para, a partir de 11 de Março — data por si só absolutamente arrepiante — continuar a maltratar Portugal inteiro, tal acto de profunda insanidade mental colectiva apenas encontrará justificação num estranho surto de síndrome de Estocolmo.


Publicado no Jornal O DIABO