Mal a crise tinha acabado de rebentar — na manhã daquele estranhíssimo dia 7 de Novembro e que culminou com o pedido de demissão do Primeiro-Ministro António Costa, formalmente entregue ao Presidente da República em momento imediatamente anterior à declaração que dirigiu aos portugueses, a partir da residência oficial, no palácio de São Bento, em Lisboa, logo ao início da tarde, cujo motivo se fundamentou na confirmação, pela Procuradora Geral da República, de que “”no decurso das investigações surgiu, além do mais, o conhecimento da invocação por suspeitos do nome e da autoridade do Primeiro-Ministro e da sua intervenção para desbloquear procedimentos no contexto supra referido e que tais referências serão autonomamente analisadas no âmbito de inquérito instaurado no Supremo Tribunal de Justiça, por ser esse o foro competente”” —, referi junto do meu círculo pessoal, familiar e profissional mais restrito, que aquela situação que estávamos a assistir tinha qualquer coisa de estranho, soando a algo artificial e mal contado. Sobretudo, por neste caso não ter havido o envolvimento da Polícia Judiciária (mas sim da PSP), enquanto órgão de polícia criminal que coadjuva o MP na investigação, em fase de Inquérito, o que é absolutamente inverosímil.

Pelo que — ainda que em tom de brincadeira — sublinhei que não deveríamos excluir nenhuma das hipóteses possíveis a fornecer uma resposta, fundamentada em critérios estritamente racionais, que nos pudessem explicar, com razoável probabilidade, o que estava ali a acontecer. Mesmo aquelas que, à primeira vista, nos pudessem parecer escabrosas e maquiavélicas. Aliás, principalmente essas, ou não fosse António Costa a personificação do “Príncipe” de Maquiavel.

Entretanto, mais de 45 dias passados sobre o dia em que o Governo ruiu, com tudo o que de lá para cá, sobre o processo criminal conexo se desenvolveu, e também sobre as mexidas ocorridas no Governo demissionário, designadamente com a ecológica exoneração do Ministro Galamba, cujos efeitos produzidos logo se fizeram sentir por um aumento assinalável da qualidade ambiental do Governo. De resto, ambiente esse, agradavelmente mais arejado e respirável, só não se estendeu às demais instituições democráticas porque, infelizmente, tal activo tóxico eleito pelo PS resolveu assumir o seu lugar de deputado na Assembleia da República. Isto, pese embora, o Parlamento se encontre em processo dissolvente em curso.

O Partido Socialista, como se percebe e constata, é o partido político português mais organizado e profissional — e isto não é um elogio, é sim uma evidência de decorre dos muitos e muitos anos que leva de exercício do poder. Aliás, de forma quase total e ininterrupta em 30 anos. Pelo que, rapidamente, tratou da sua situação interna relativa à sucessão de António Costa, marcando a data da realização das eleições internas, fazendo a respectiva campanha que pôs em confronto os dois principais candidatos: José Luís Carneiro e Pedro Nuno Santos e um terceiro figurante.

Sem surpresas, os socialistas escolheram Pedro Nuno Santos como seu novo líder. Em consonância com todas as previsões veiculadas pelos arautos do submundo mediático da comunicação social, com especial profundidade no poço intelectual em que os quatro canais noticiosos de televisão portugueses se tornaram. Ou seja, uma inequívoca indústria de influência processada, 24 horas por dia, 7 dias por semana — qual neo-evangelização tecnológica de comunicação e difusão da palavra socialista —, para o qual, relembro as mentes mais distraídas, receberam milhões de euros do Estado durante a pandemia, i.e., através do dinheiro extorquido aos contribuintes em geral e, com violência e requintes de malvadez, às classes médias em especial, por sucessivas cargas fiscais record que todos os anos as maiores de sempre.

Como vimos e temos visto, estes “influencers” da TV apostaram tudo na vitória de Pedro Nuno Santos, a quem reconhecem grandes atributos de personalidade, capacidade e características políticas, tidas como essenciais para um bom desempenho de liderança.

Não obstante, no que concerne à manifestação desses critérios, requisitos ou características do perfil psico-técnico de Pedro Nuno Santos, confundem, deliberadamente, postura comportamental com inteligência emocional. Arrogância com assertividade. Demagogia com racionalidade. Inconsciência com audácia. Irresponsabilidade com determinação. Sabendo, porém, que tudo aquilo não passa de uma gigantesca fraude racional, diria, pré-intelectual do ora candidato a Primeiro-Ministro.

E isso revela-se — como a inevitabilidade enfadonha da chegada de um Outono desagradável — através, por exemplo, da formulação de perguntas básicas que o confrontem com o conhecimento, como muitíssimo bem fez José Rodrigues dos Santos, na entrevista que conduziu na RTP.

Na realidade, do que já se conhecia do personagem e do que vamos agora constatando e confirmando, em virtude de uma maior exposição pública que a sua ambição de liderar o partido e, consequentemente, o Governo da República assim obriga, sinceramente, Pedro Nuno Santos, acima de qualquer outra coisa, revela uma profundíssima ignorância geral.

É notável como Pedro Nuno responde a tudo, sem subterfúgios nem receios, com a apreciável rapidez de um inimputável, agravado pela firmeza com que assume posições, mesmo que sobre matérias de que desconhece em absoluto. A ligeireza convicta com que aborda quaisquer temas demonstra desconhecimento, impreparação e total ausência de rigor.

E como se tudo isto já não bastasse, Pedro Nuno Santos ostenta níveis pouco recomendáveis de autoritarismo e intolerância que, regra geral, convivem muito mal com a crítica e o confronto democráticos. Um perfil tipicamente propício ao desenvolvimento da síndrome do pequeno poder.

Enfim, como diria o meu Professor Luís Cabral de Moncada, com quem aprendi na faculdade a gostar de Direito Administrativo, não subsiste qualquer dúvida de que: “a ignorância é a maior de todas as fontes de atrevimento”. Ora, Pedro Nuno Santos não só é extremamente atrevido, como tem convicções…

Acredito, genuinamente, que teria sido melhor para a qualidade da democracia portuguesa que os socialistas tivessem plena consciência das suas escolhas, pois quem venceu esta eleição interna poderá muito bem ser o próximo Primeiro-Ministro de Portugal.

O PS bem pode ter visto nele uma espécie de “”cavalo de Tróia”” ideal a esta próxima batalha eleitoral que irá travar pela manutenção do poder e do seu tentacular domínio em toda a Administração Pública, mas tal e qual como o icónico cavalo de madeira grego e, bem ainda, como Sócrates — o português — Pedro Nuno é oco, todavia alojando perigosamente dentro de si um engodo destrutivo de consequências funestas que o país não precisava de testar.


Artigo publicado no Jornal O DIABO.