“A conhecida frase do filósofo espanhol José Ortega y Gasset tem de novo plena aplicação no cenário político Português, depois de anunciado o próximo dia 10 de março como nova charneira eleitoral.

Enquanto a esquerda ainda procurava perceber exatamente como reagir, perante uma inesperada derrocada governativa, já a direita acenava com o inevitável método criado por Victor D’Hondt para justificar uma coligação tripartida.

Mas porque nestas coisas o melhor é cortar o mal – força de expressão – pela raiz e não ajudar a alimentar uma teoria vazia de intenção, cedo o líder da Iniciativa Liberal clarificou a intenção de se apresentar aos Portugueses com uma proposta de Governo própria. E, em coerência, não tinha outra alternativa!

É perfeitamente natural que o – ainda – segundo maior partido político nacional, perante a impossibilidade de uma maioria Parlamentar, tentasse aglutinar o maior número de eleitores. Mesmo que não pelo mérito das suas ideias próprias. A sua cultura partidária e dinâmica interna, baseadas em décadas de alternância no poder, vê apenas como casos de sucesso aquelas lideranças que foram capazes de gerar um Primeiro-Ministro. Perante a perspetiva de um resultado sempre melhorado, por força da natural soma das partes, existe ainda o famoso “método dos quocientes”, que poderia potenciar uma espécie de bónus, adicionando – provavelmente – uma dezena de deputados. Ou seja, num dia bom, poderia inclusivamente dar para governar.

É igualmente aceitável a posição do Partido político que nas últimas eleições legislativas, de forma impressionante ainda que expectável, deixou de ter presença no hemiciclo nacional. Com dois anos de protagonismo político quase inexistente e sem o fulgor interno de outros tempos, esta coligação garantiria desde logo, e pelo menos, um deputado. O que poderá não conseguir numa versão standalone. Mas poderia correr bem e, nesse caso, espreitar a própria constituição do Governo, com um Secretário de Estado, o que tornaria as próximas eleições numa das mais históricas remontadas partidárias das últimas décadas.

Mas um triângulo tem três vértices, e neste em particular o terceiro teria de ser a IL. Para os liberais, este acoplar forçado e violento a uma doutrina social democrata não auguraria nada de bom, podendo mesmo representar um suicídio ideológico a médio prazo.

Desde logo, falamos de uma força política em constante e consistente crescimento. Cresceu sempre, em todas as eleições, conquistando o seu eleitorado pela forma única de pensar o país e o seu crescimento. Uma coligação, mais que confundir o seu eleitorado, iria desacreditar a sua filosofia ideológica, que responsabiliza o “arco do poder” por 50 anos de crescimento perdidos.

Mas também Rui Rocha ficaria profundamente deslustrado. O novo líder, perante o seu primeiro desafio eleitoral, terá sempre que procurar provar o seu valor, dando continuidade a um claro crescimento. No seu caso, uma coligação pareceria sempre um assalto ao poder, assente numa enorme falência na convicção liberal, que nem um eventual Ministério poderia disfarçar.

Rui Rocha é portanto reflexo da sua circunstância e a seu favor tem quase tudo! Uma ideologia própria, com resultados de sucesso comprovados em muitos países europeus, e que cada vez conquista mais Portugueses; uma ausência de vícios internos, profundamente enraizados na generalidade dos partidos nacionais, onde fações entrópicas e favores pendentes antecipam permanentes tentativas de golpes palacianos; e a inexistência de uma herança responsabilizante por governações falhadas, onde a ausência de um grande plano de crescimento se cruza com evidências de incompetência, e onde o abuso de poder e a ingestão nos diferentes setores privados são salpicados por atuações menos lícitas.

Dele espera-se que continue a demonstrar aos Portugueses que o liberalismo é essencial para o crescimento do país e incontornável para quem o quiser governar de forma competente, ainda que – por agora – o faça sem pastas atribuídas. Porque para os liberais, tal como para o poeta António Machado, o caminho faz-se caminhando.”


Publicado no Observador