Basta-nos proporcionar ao SNS o amor e carinho que até agora lhe tem sido negado. Não devemos ser nós, médicos e enfermeiros, responsáveis por esta morte prolongada em agonia do SNS

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), os cuidados paliativos “previnem e aliviam o sofrimento através da identificação precoce, correta avaliação e tratamento da dor e de outros problemas, sejam eles físicos, psicossociais ou espirituais”. Note-se como a OMS, intencionalmente, refere a “identificação precoce” destas situações. No entanto, o Sistema Nacional de Saúde (SNS) é um excelente exemplo de um doente que tem o destino traçado há muito tempo e nunca lhe foi permitido ter os cuidados merecidos.

António Costa, o ministro Manuel Pizarro e o seu testa de ferro, quer dizer, CEO, são claramente a favor da eutanásia do SNS, mas a sua cobardia fala mais alto. Não se preocupam, não têm empatia, não amam o SNS que tanto deu a este país. Tive a oportunidade de o comprovar recentemente num evento onde me cruzei com Manuel Pizarro onde este, quando confrontado por um grupo de jovens médicos, referiu que os “médicos falavam demais” e que “se não estão contentes a porta está aberta”. Imagine-se o quão estupefactos ficámos. Jovens médicos que ainda nos preocupamos com o SNS a tentar perceber a razão destas declarações. Pizarro certamente irá desvalorizar ou desmentir, mas também não espero outra coisa de alguém com um conjunto de valores bizarros.

A razão para o SNS estar cada vez mais doente é simples: António Costa é incompetente e rodeia-se de pessoas ainda mais incompetentes. Imagine-se estar ao leme de um país durante 8 anos, onde os problemas estão mais do que identificados e, mesmo assim, não conseguir criar qualquer tendência para inverter esta situação. Aliado aos partidos da extrema esquerda – sim, é importante não esquecer que tanto o Bloco de Esquerda como o PCP estiveram no governo e terão sempre a sua quota parte nesta morte lenta, premeditada e intencional do SNS – António Costa prepara-se para dar a machadada final no SNS.

Sem alterar as condições do SNS, sem negociar com a Federação Nacional dos Médicos – repare-se que não falo do Sindicato Independente dos Médicos, pois esse de independente já nada têm – pretende que os médicos abandonem em definitivo o SNS, colocando o ónus da morte do SNS nos médicos e não no Partido Socialista. Alguém ainda espera ver o Partido Socialista a assumir responsabilidade pelo que quer que seja neste país?

E, pelo caminho, ainda prepara documentos ou eventuais remodelações para “inglês ver” como se costuma dizer. Pretende a criação de uma verdadeira Rede Nacional de Cuidados Paliativos, com uma “rede funcional, integrada nos serviços do Ministério da Saúde, e que se baseia num modelo de intervenção integrada e articulada, que prevê diferentes tipos de unidades e de equipas para a prestação de cuidados paliativos, cooperando com outros recursos de saúde hospitalares, comunitários e domiciliários.”

Neste belo documento que mais parece um guião de uma tragédia grega começa por referir que se pretende “a redução de custos em Recursos Humanos e a promoção de respostas integradas de Cuidados Paliativos em linha de continuidade, sem entropias”, seguido de: “Ainda que a Rede Nacional de Cuidados Paliativos (RNCP) possua hoje um projeto assistencial consolidado quer pelo enquadramento jurídico, quer pela operacionalização orientada pelos Planos Estratégicos de Desenvolvimento dos Cuidados. Paliativos (PEDCP) de 2017 a 2022, carece de visibilidade”

Pretende alargar o período de apoio para 24h, alcançando uma maior eficácia e redução de custos/encargos com os recursos humanos e destaca que os Cuidados Paliativos ganham estrutura e legitimidade no SNS com a Lei de Bases dos Cuidados Paliativos que vem consagrar o direito e regular o acesso dos cidadãos aos Cuidados Paliativos, bem como atribuir as responsabilidades ao Estado nesta matéria. Será que desta vez o Estado vai assumir responsabilidades?

Se atualmente, com os recursos disponíveis, dificilmente se asseguram as equipas de Cuidados Paliativos durante o horário de trabalho semanal, quanto mais em apoio para 24h. Só mesmo nas mentes iluminadas pelo socialismo. E tal vem explicado no mesmo documento quando de seguida referem inúmeros problemas: “a formação insuficiente em número, em profundidade de aptidões e não reconhecida dos profissionais para a constituição de equipas com os requisitos previstos em todas as áreas profissionais (medicina, enfermagem, psicologia e serviço social); A ausência de um circuito de comunicação ágil entre Equipas, i.e., insuficiência e desadequação dos perfis das equipas nas plataformas digitais existente no SNS; Desarmonia dos critérios de referenciação dos doentes”

Finalmente, ainda têm o desplante de falar sobre a resposta domiciliária dos Cuidados Paliativos quando as equipas existentes nem cobrem alguns dos maiores centros urbanos deste país, como a Amadora. Mentes iluminadas, sentadas atrás de um computador, alheados da realidade e a escreverem o que lhes mandam escrever.

O SNS aproxima-se a passos largos do seu final. A morte anunciada deve-se a erros crassos de gestão do mesmo e a culpa não deve morrer solteira. Basta-nos proporcionar ao SNS o amor e carinho que até agora lhe tem sido negado. Não devemos ser nós, médicos e enfermeiros, responsáveis pela distanásia, ou seja, por esta morte prolongada em agonia do SNS.

Talvez se o investimento nos Cuidados Paliativos fosse da magnitude do investimento na TAP, o SNS não tivesse chegado a esta situação. Assim, em vez de eutanásia, devemos usar o termo correcto: homicídio por negligência.


Artigo publicado no Observador