Foi no sábado passado, enquanto assistia ao congresso do PSD, que ouvi uma comentadora dizer que “a Iniciativa Liberal está a passar um momento muito difícil internamente”. Fiquei alarmado. O que de tão grave se passaria para que o estado de saúde de um partido fosse tema no congresso de outro? Fui investigar.

Grupo alargado de militantes vai deixar o partido”, noticia a RTP. “Vaga de desfiliações na IL”, avisa o DN. “Debandada na IL de militantes descontentes”, assusta o JN. Senhores jornalistas, vinte e cinco membros num partido com sete mil são 0,36%. Dificilmente é um “grupo alargado”, nunca uma “vaga” e só em delírio poderia ser uma “debandada”. Depois de bem analisado, conclui-se que alguns daqueles membros já tinham saído do partido há meses ou anos. É preciso muito spin para fazer disto notícia. E, terror dos terrores, um deles foi para o Chega. Bom, este devia andar mesmo perdido, se se julgava liberal e acaba num partido que em estatismo compete com o PCP.

Para quem não acompanha a vida interna dos partidos políticos, convém esclarecer que todos os meses entram e saem de todos os partidos portugueses dezenas ou centenas de militantes. E como é bom que assim seja. Imaginem o que seria vivermos num regime em que os cidadãos não pudessem militar nos partidos em que muito bem entendessem. Depois de quase cinquenta anos de democracia, não é notícia.

Li um comentador referir que o partido ficou dividido porque a última convenção eletiva foi disputada por três candidatos à liderança. Meus caros, lideranças não disputadas já só encontrarão no PCP e no Chega. Com certeza não estavam à espera de ver a Iniciativa Liberal seguir esse caminho. Outro dizer que não estão saradas as feridas dessa última disputa interna. Espantem-se: o maior núcleo do país é coordenado por membros que vieram de cada uma das candidaturas então em confronto.

Percebe-se o pânico e a vontade de ver sangue onde ele não existe. A Iniciativa Liberal conseguiu nos seus seis anos de vida alcançar os resultados com que outros andaram décadas a sonhar. Tem mais membros e simpatizantes agora do que alguma vez teve no passado. Subiu sempre em todas as eleições a que concorreu. E continua a aumentar hoje nas intenções de voto.

Da esquerda à direita, é sistematicamente atacada e assediada. De um lado acusam-na de extremismo e de radicalismo, do outro suspiram por um acordo ou coligação.

Mas não tenho boas notícias para quem se assusta com o passado deste partido. É porque é no futuro que reside a sua força. Desengane-se quem viu na Iniciativa Liberal um partido de protesto. A sua natureza é construtiva e não tenho dúvidas de que será chamada a exercê-la já no próximo mês de março.


Publicado no Observador