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Não vá para “afuera” cá dentro

Palavra aos Membros

O famoso slogan do turismo de Portugal queria recordar aos portugueses que o nosso país já tem tudo do melhor que há lá fora. No entanto, enquanto liberal que quer um Estado mais eficaz e, sobretudo, mais eficiente, preocupa-me que se queira trazer para cá o mesmo que se faz lá fora.

Qualquer liberal - e até (arrisco dizer) a maioria dos portugueses -  concordará que o aparelho do Estado é uma máquina lenta e pesada, que desperdiça milhões e não presta um grande serviço em troca de tudo aquilo que sorve dos contribuintes. Torna-se, por isso, apelativo para um liberal olhar para os exemplos de países que estão a cortar na máquina do Estado, como a Argentina ou os EUA e desejar que se fizesse o mesmo exercício em Portugal. Isto já se notou na última convenção nacional da Iniciativa Liberal, e receio que esta seja uma tendência crescente.

Acredito que a forma como as coisas são feitas é tão ou mais importante do que as intenções, ou mesmo os resultados obtidos. Isto aplica-se, acima de tudo, à política, mas também em qualquer outra área da vida. Vejamos um exemplo óbvio: imaginemos dois pais a tentar educar os seus filhos. Um é assertivo, explica ao filho por que não pode ter o que quer e estabelece limites com clareza. O outro pai grita com a criança e agride-o. Qualquer pessoa decente concordaria que mesmo que ambos os pais tenham, em última análise, boas intenções e mesmo que o segundo filho até seja melhor comportado, essa não é a FORMA correta de agir. Também na política, a forma como se faz campanha ou se resolvem os problemas não só define os políticos e os partidos, como é essencial para conquistar a confiança dos eleitores e garantir que os resultados das medidas sejam duradouros.

Na minha opinião, o liberalismo português não deve seguir estes exemplos. Sem prejuízo de se manter o objetivo comum de um Estado eficaz e eficiente, a Iniciativa Liberal deve manter-se firme no caminho responsável, competente e ponderado que tem vindo a construir para o nosso país.

Justifico esta posição com três argumentos:

1. O país e o mundo precisam de bom senso, maturidade e competência.

Num mundo onde o populismo, a demagogia, as campanhas de choque mediático e as respostas fáceis para problemas complexos têm ganho terreno, é importante resistir à tentação de adotar o estilo mais espalhafatoso e populista de Javier Milei. A IL tem conquistado o apoio dos portugueses precisamente porque tem demonstrado maturidade e competência. Face aos populismos de direita e de esquerda, a IL deve reforçar essa postura e não ceder a discursos mais simplistas e inflamados.

2. O país precisa de planos de ação pensados.

Na sua primeira campanha para Primeiro-Ministro, uma das grandes apostas de António Costa para conquistar os votos da esquerda sem perder os do centro, receoso das aventuras orçamentais socialistas, foi a apresentação do “Plano Macroeconómico” elaborado por Mário Centeno. Um documento que continha um plano económico detalhado e as respectivas contas, demonstrando que era possível fazer a quadratura do círculo. Este plano manteve o PS na corrida às legislativas de 2015 e no poder durante nove anos.
Já Elon Musk, com o DOGE (Department of Government Efficiency), não tem qualquer plano, apenas uma missão: cortar. Isto leva a cortes cegos com consequências imprevisíveis para os cidadãos, reduzindo efetivamente a despesa do Estado pela diminuição do seu âmbito de atuação, embora sem fazer o mais importante: tornar a máquina do Estado mais eficiente. Defendo que a IL se deve focar em definir e apresentar um plano pensado para a reestruturação do Estado, em vez de se limitar a propor cortes no setor público.

3. O país precisa de uma visão reformista.

Onde Milei e Musk/Trump tiveram sucesso foi a passar aos eleitores uma visão reformista para os seus países. Esta mensagem é bem mais fácil de passar com discursos simplistas e populistas que apontam inimigos e culpados. Felizmente, não é o único caminho. O detalhe e a profundidade dos planos podem ser simplificados na comunicação, mas têm de existir para construir algo que falta aos eleitores: confiança nos políticos.
Aplicando um princípio de um guru da gestão ao mundo político, os eleitores vão sempre preferir o partido que lhes garanta a melhor combinação destes fatores:

  1. Uma visão para um país mais próspero,
  2. Uma maior probabilidade de concretizar essa visão de prosperidade,
  3. O mínimo de tempo possível na transição para a prosperidade,
  4. O mínimo de esforço e sacrifício possíveis.

Se os populistas são muito bons a comunicar os dois últimos pontos, a IL tem de ser ainda melhor nos dois primeiros.

Em suma, “afuera” com os discursos internos dos “afueras”, lindos de ouvir para os liberais mais apaixonados, mas que não constroem soluções sólidas. 

Vamos acelerar Portugal da forma correta, dar aos portugueses o que eles valorizam e que faz falta a Portugal.

Não vá para “afuera” cá dentro
Miguel Silva Ramos 9 de março de 2025
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