Regressar a: Megafone Liberal: Edição 41
A EMEL prometeu colaborar com developers que criaram apps melhores para a GIRA - a mGira e Gira+ depois de ser confrontada pelos deputados municipais da Iniciativa Liberal. Em vez disso, bloqueou-as usando o Google Play Integrity - uma ferramenta monopolística que exclui utilizadores de Android sem serviços Google.
Carlos Moedas, que não perde uma oportunidade para falar de inovação e startups em palco, mantém um silêncio ensurdecedor quando uma empresa municipal sufoca iniciativas tecnológicas dos próprios munícipes. Lisboa é Capital Europeia da Inovação apenas nos PowerPoints e títulos de jornais. A maior inovação abraçada por este executivo parecem ter sido vídeos infantilizados sobre sistemas de drenagem de água pluvial.
Milhares de lisboetas dependem diariamente da GIRA para as suas deslocações. A app oficial continua repleta de problemas: falhas frequentes, bugs na localização, erros no número de bicicletas disponíveis. As aplicações alternativas resolviam estes problemas - até serem bloqueadas. A EMEL gastou dinheiro público não para melhorar o serviço, mas para impedir que outros o melhorassem.
Esta é a diferença entre discurso e prática: enquanto a Estónia disponibiliza APIs abertas e incentiva a comunidade tech a melhorar serviços públicos, em Lisboa bloqueiam-se soluções e perseguem-se developers. Se o código é pago por todos, deveria beneficiar todos. Que tipo de mensagem enviamos aos jovens programadores quando a resposta à sua iniciativa é hostilidade e bloqueio? Esta não é a Lisboa startup-friendly que nos vendem em conferências internacionais.
A solução é simples e já testada noutras cidades: APIs públicas documentadas, código aberto, e um programa de recompensas (bounties) que premeia financeiramente programadores que resolvam problemas específicos ou acrescentem funcionalidades úteis. O custo seria uma fração do que já se gastou a bloquear inovação. Imagine-se: em vez de gastar dinheiro a impedir melhorias, a EMEL poderia oferecer recompensas a quem resolvesse o problema da geolocalização ou melhorasse a precisão do número de bicicletas disponíveis. Mas isso exigiria uma mudança fundamental: passar de uma mentalidade de controlo para uma de colaboração.