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δῆμος (Demos) κράτος (Kratos) - O Governo do Povo

Opinião de Jorge Coutinho de Miranda no Observador
O Partido Chega ganhou as eleições! Melhor dizendo, o André Ventura foi o claro vencedor das eleições! Sem me querer debruçar muito sobre as razões, diria que a cartada do PSD em apresentar esqueletos sobre esqueletos relembrou ao Povo de que o Cavaco na hora da implosão do BES, asseverou a solidez do Banco, e que do outro lado, no PS, foi como que gato escaldado de água fria tem medo que à debacle socrática seguiu-se os Escárias, Galambas e Costas desta vida. Ninguém quis escutar o murmúrio de fundo e o Luís Montenegro resolveu criar o nó górdio traçando linhas vermelhas e ameaçando o povo de que com estes, nem pensar! Receoso que estava de lhe acontecer o mesmo que ao seu antecessor que ao não jogar a cartada, entregou de bandeja a maioria absoluta ao PS, que por sua vez ficou refém da jogada anterior por já ninguém acreditar que vinha aí o fascismo e porque a evidência dos desmandos e dos abusos de poder vieram do PS e não dos extremos. Por outro lado, a cartada Liberal de querer tapar o sol com a peneira fê-los regressar à casa da partida, sem mais um voto, tornando-os insignificantes no jogo de desenlaçar o nó, a não ser que queiram fazer o jogo do mediador, e assim tentar resolver o insolúvel, embora não pareçam estar também disponíveis por também eles em 2022 terem traçado as mesmas linhas vermelhas, nem sequer a mencionando por uma vez em 2024, que eu me recorde!? E agora, o que fazer? O 25 de Abril de 1974 retirou-nos das garras de um regime moribundo, corrupto e fascista e acabou com uma guerra injusta por uma causa insuportável de ser sustentada, devolveu-nos a Liberdade, a dignidade, a esperança e um futuro melhor. 50 anos volvidos o Povo disse que esse futuro melhor tarda em chegar, e que os desmandos duma casta de privilegiados, encartados pelos partidos do arco do poder e que nos estão a espoliar dos bens e apenas a servir os seus belos interesses sobre o nosso suor, tem de terminar! E essa voz ergueu-se em mais de um milhão e cem mil portugueses que o próprio Pedro Nuno Santos descreveu como não podendo ser todos racistas e xenófobos, e que escutar é preciso. Não tenho o menor interesse no Chega até porque o meu voto foi Liberal, mas o que se passou no dia 10 de Março de 2024 foi significativo e importante. Em Democracia os votos de uns são exatamente iguais aos votos dos outros. Em Democracia o Povo é quem mais ordena! O Governo pertence ao Povo – Demos Kratos! Em Portugal estou convicto de que a Democracia está sólida, e que mais uma vez o Povo mostrou sageza ao não entregar o poder de bandeja a um só partido ou coligação e recomenda, quanto a mim de forma inequívoca, que os políticos à direita do espetro se devem entender. Caso falhem por culpa de uns ou de outros, o grito dos descontentes pode-se tornar insuportável e refletir-se numa vitória ainda mais contundente por parte de um político hábil no jogo e que provou que consegue arrastar querer e vontades, como há muito não se assistia neste nosso Portugal. E isso não vamos querer experienciar com certeza. Muito do radicalismo ideológico do Chega atemoriza certamente todos os amantes da Liberdade e da Democracia, mas creio também que a partilham como todos nós, afinal, estão onde se encontram, contra a quase unanimidade de comentadores e periodistas, por terem conquistado o seu lugar precisamente em Liberdade e em Democracia. Um feito notável! Não me parece ser particularmente difícil em juntar todos à mesa das negociações, como nos países evoluídos do Norte da Europa ou em Itália, e traçar um claro rumo de entendimento centrado no superior interesse da Nação, no estabelecimento de compromissos entre as partes, com cada um a tentar colocar-se nos sapatos do outro, porque as distâncias sobre os problemas mais prementes da nação parecem ser do entendimento de todos esses partidos: AD, Chega e Liberais, a julgar pelo que escreveram nos seus programas e verificar que existem muito mais alinhamentos do que divisões, que são importantes mas não insolúveis. O Demos precisa de ser respeitado por quem lhe conferiu o Kratos de forma tão clara como o fez a 10 de Março. Viva La Libertad Carago!

Publicado no Observador
δῆμος (Demos) κράτος (Kratos) - O Governo do Povo
Jorge Coutinho de Miranda 16 de março de 2024
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