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Cobardes são os que não têm coragem para manter os seus valores

Opinião de Diogo Drummond Borges no Observador
“Espero que o Ministério da Saúde não se esqueça que é Ministério da Saúde. Se pensar dessa maneira, esta urgência não fecha de certeza”. Em Dezembro de 2012, Manuel Pizarro, na altura deputado do PS, lançava este aviso sobre a Urgência de Santo Tirso ao Ministério da Saúde, sob a tutela do governo liderado pelo PSD. Voltamos então a 2023, quando Manuel Pizarro se esqueceu que era ele o ministro da Saúde. Talvez por ter um testa de ferro, talvez por incompetência ou talvez porque os seus valores mudaram de forma bizarra. O que leva a que um médico, que conhece o SNS, onde trabalhou durante alguns anos, se esqueça dos problemas existentes? Apenas um factor mudou: agora o Partido Socialista está no poder. E isso é o suficiente para levar à mudança de valores de muita gente. Há onze anos, Manuel Pizarro explicava como o fecho de uma urgência ia acarretar custos para outras urgências mais próximas e levar a uma pior prestação de cuidados. Em 2023, o governante refere que este modelo de organização de urgências funciona, nalguns casos há duas décadas, sem perturbações. Ainda agora começou o escrutínio e o leitor já é capaz de sentir um enjoo com as curvas e contracurvas. Manuel Pizarro foi abençoado pela existência de outros ministros tão incompetentes que fazem esquecer o caos que se vive na Saúde. No entanto, o ministro também teve azar. Teve azar porque o verão ainda não chegou e não conseguiu culpar os malvados dos médicos que tiram férias pelo encerramento das urgências. Ainda assim, o culpado nunca é o Governo: Como se não bastassem os grupos de trabalho que o governo já criou, Manuel Pizarro não quis ficar atrás dos restantes ministros e também criou mais um grupo! Desta vez, para avaliar as dificuldades na formação de médicos. Afirma que a medicina “precisa muito mais de especialistas do que precisava anteriormente”, mas, como sabe – ou devia saber –, ao contrário do que o ministro afirma, antigamente também existiam muitos especialistas. A questão é que esses foram abandonando o SNS – e o país – em busca de melhores condições de vida. Num curto espaço de tempo, ainda criou mais uma comissão para reorganizar os serviços de saúde pública. Comissão esta que já existia… Ou seja, já nem Manuel Pizarro sabe o que dizer. Fala-se do novo Hospital Central do Alentejo, do Hospital de Todos os Santos, entre tantas outras promessas que já sabemos que não vão acontecer em tempo útil. Imagine se não existisse uma comissão executiva para o SNS, com o seu CEO, quantas mais bizarrias iria o ministro dizer. Ainda assim, o seu CEO também consegue que o SNS retroceda ao querer que os certificados de incapacidade temporária possam ser passados na urgência, como se estas já não estivessem caóticas o suficiente. Mas existe uma lógica perversa por trás desta opção: “se não vamos investir nos cuidados de saúde primários e os portugueses vão recorrer à urgência, então agora também vão à urgência para pedir o certificado de incapacidade”. Certamente que o CEO Fernando Araújo precisa de rever o conceito de urgência. Apesar do pouco tempo como ministro, Manuel Pizarro já ganhou algumas vicissitudes dos governos socialistas, tentando varrer para debaixo do tapete as respectivas asneiras. No entanto, ainda existe alguma integridade: a ERC mantém-se independente e pôs o Ministério da Saúde em tribunal. Para terminar, a autorização da contratação directa dos recém-especialistas para assegurar o normal funcionamento das urgências. Seria interessante analisar quantos destes novos especialistas se vão sujeitar às condições degradantes que os governos socialistas lhes vão apresentando. Governos sem coragem para admitir que não têm interesse em investir no SNS e que apenas o mantêm moribundo de modo a passar a “batata quente” para o próximo governo da oposição. Será isto que queremos para Portugal? Governantes cujos valores bizarros mudam quando chegam ao poder? Cobardes não são os que abandonam o SNS em busca de uma vida melhor. Cobardes são os que não têm a coragem para manter os seus valores. Cobardes são os que mudam os seus valores para agradar a quem está no poder. Cobardes são os que têm valores pizarros! Ler artigo completo no Observador Autor: Diogo Drummond Borges Data: 8 de junho de 2023 Publicação: Observador
Cobardes são os que não têm coragem para manter os seus valores
Diogo Drummond Borges 7 de junho de 2023
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