Foi com surpresa que li no Expresso um artigo de opinião do militante do PS Ascenso Simões intitulado “A morte anunciada da Iniciativa Liberal”.

Surpresa em primeiro lugar pelas preocupações demonstradas pela vida interna do partido e dos seus protagonistas. Na verdade, as regras deontológicas da vida política – quando praticadas por quem as tem – habitualmente ditam que os partidos se eximam de se imiscuir na vida interna uns dos outros. Surpresa igualmente pelo anúncio de tão precoce e fatal prognóstico a um projeto político que ainda agora começou a andar, devagar é certo, mas com passo firme, conforme – de resto – os últimos resultados eleitorais assim o confirmam.

Surpreendente de igual forma foi a extenuação, escondida atrás da ironia, da vida política e partidária revelada pelo deputado da bancada da maioria parlamentar. Já o entendimento adivinhado das razões de Cotrim de Figueiredo apenas pode significar reflexo ensimesmado.

Compreendo que para um político com uma longa carreira; deputado em quatro legislaturas e por três vezes membro do Governo, por curtos períodos é certo, mas em pastas diversas, o verbo aturar foi porventura o que mais prontamente lhe ocorreu. Pessoalmente gosto do verbo. Pena que o tempo verbal tenha sido utilizado apenas no infinitivo sendo um verbo tão peculiar foneticamente.

Pela leitura aturada do texto, compreendemos, ainda assim, que há lugar ao elogio da personalidade, capacidade e imaginação política de Figueiredo e à organização capaz de Rodrigo Saraiva. Menos mal!

Mas o que é a Iniciativa Liberal? Nada! Pergunta e responde prontamente Ascenso Simões. A resposta seria aturável não fosse a zombaria que de seguida faz dos militantes da Iniciativa Liberal, cognominando-os de meninos, chorões, nerds, que brincam à política.

Os milhares de membros da Iniciativa Liberal que formam as bases, e onde me incluo, e que nas considerações ascensistas a IL não possui, aturá-lo-iam, não fossem as suas palavras vazias de qualquer lisura.

Regressemos à capacidade e imaginação política e à organização capaz que Ascenso Simões reconhece à IL para tentar suprimir aturadamente a tristeza por si assumida após a conquista da maioria absoluta do PS e que obriga a que a política vá mais além do que classifica como simples tumulto.

Compreenda-se antes de mais, que esse “Nada” que Ascenso Simões utiliza para definir a IL é na verdade Tudo! Parece um paradoxo, mas não é! Explico: nada prossupõe um vazio. O vazio por sua vez, é o que permite a existência das coisas. É uma visão positiva – e não negativa. Devemos entender o vazio pelas amplas possibilidades e benefícios que traz. O vazio é invisível, apesar de óbvio. Peço-lhe que ature o meu atrevimento ao interpretar a sua tristeza como um receio justificado.

Existe um muito antigo preceito que nos diz que em política o vazio tende a ser naturalmente preenchido. No caso português não se trata de um vazio de poder. Não! Trata-se de um vazio de política! Ironicamente, a maioria parlamentar conquistada pelo partido socialista ao invés de o entusiasmar, deixa-o triste. Compreendeu porventura que não seria a maioria absoluta que protegeria o seu partido de fazer e discutir política. Interpretou, e bem, que durante os próximos quatro anos aturarão aquilo que designa como maçada para quem quer ter uma caminhada confortável no tempo de existência em que se merece ter uma vida aconchegada. Compreendo-o!

Compreenda, no entanto, Ascenso Simões, que foi o vazio existente durante algum tempo em Portugal pela falta de políticas capazes de responderem aos legítimos anseios de milhares de portugueses que fez nascer e crescer a Iniciativa Liberal e consolidou este partido como a quarta força parlamentar no espaço de dois anos. Círculos houve, como em Lisboa, em que a IL foi o terceiro partido mais votado, logo atrás do seu. Foi a exaustão de muitos portugueses em aturarem a incapacidade de políticas que a nada respondiam que nos trouxe a este resultado.

A verdade, é que ao contrário do que escreve, a IL tem bases, e bases sólidas porquanto nada esperam da política nem do Estado que não sejam a transformação de Portugal num país com políticas de desenvolvimento próprias do séc. XXI, com ambição, independência e liberdade. Trabalhadores, empreendedores, criativos, empresários e reformados. Centenas de jovens que aspiram a um país diferente. Só por mirabolante ironia poderá Ascenso Simões afirmar que os liberais portugueses são o que de mais dependente do Estado existe. Escrito por um militante do partido que há mais anos governa o país, e onde milhares de militantes se assenhorearam da Administração Pública, das empresas públicas e de uma vastidão de organismos pagos pelos contribuintes, seria necessária uma infinita capacidade de aturabilidade para lhe perdoar tal afirmação.

Foi na IL que aquilo a que chama bases – e que mais não são que mulheres e homens livres e com independência – consideraram que podiam ter uma palavra a dizer sobre o futuro do país. Foi Independência e Liberdade que encontrámos no Partido dos Liberais Portugueses, esta Iniciativa, emanada da sociedade civil e que tem vindo num crescendo enorme por todo o país nos últimos 5 anos. O único partido político em Portugal que está verdadeiramente aberto à sociedade portuguesa e que a escuta sem paternalismos ou imposições e disciplinas partidárias vazias, num vívido espírito de ambição para alcançar um país mais desenvolvido, mais justo, mas igualmente mais livre!

Pergunta Ascenso Simões quem são os candidatos a presidente da IL e responde acintosamente, com graçolas bentas e folclóricas sobre um deles (que só se justificam por alguma rivalidade regional dado que a afirmação é feita por um deputado eleito 4 vezes pelo círculo de Vila Real) e com reconhecimento a outra, assegurando-lhe um destino pouco auspicioso.

Desengane-se! Na IL são as ideias que se sobrepõem às personalidades. Não se iluda; depois das eleições internas a IL estará mais capacitada e preparada do que nunca para defender o projeto político a que se propõe, explanado no mais vasto programa eleitoral que concorreu às eleições legislativas e que o senhor diz que não existe. São mais de 600 páginas que o convido a ler. A Iniciativa Liberal tem liderança, tem bases, tem quadros altamente qualificados e tem programa político. Irá aturar-nos por longo tempo, assim decidam os portugueses.

Por fim importa ainda dizer-lhe que aquela que diz ser a máxima da IL – nem mais um cêntimo aos pobres, não é aturável. Portugal nos últimos 30 anos foi governado pelo PS durante mais de 20. E em resultado desses mais de 20 anos de governação socialista, somos hoje o 28.º país da Europa em índice de desenvolvimento humano; temos a terceira maior dívida pública da EU, e a 6.ª maior carga fiscal. Em 2020 emigraram 68.000 portugueses (em 1960 emigraram 32.000). Somos um país onde mais de 60 % da população vive direta ou indiretamente do Orçamento do Estado. Somos um país com mais de 2 milhões de cidadãos a viver no limiar da pobreza. A sua afirmação gratuita e malevolente não é, pois, aceitável.

Cada um tem as referências e faz as citações que entende, e naturalmente respeito que use palavras de Le Pen que considera inspiradoras. Pela minha parte quero terminar dizendo-lhe que aturássemos nós, facilmente, afirmações gratuitas como as que faz, que mais não são que ruído fútil, e aturaríamos o inaturável.

Finalmente retribuo-lhe a prece, desejando que Deus lhe dê uma vida longa e descansadinha, na certeza, porém, de que as bases da Iniciativa Liberal aqui se manterão determinadas e inspiradas, pois tal qual afirmava Mahatma Gandhi “nas grandes batalhas da vida, o primeiro passo para a vitória é o desejo de vencer!”

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